Na aldeia de Pera habita uma comunidade heterogénea de pessoas, marcada por um fenómeno de imigração que hoje procura, no interior rural de Portugal, um lugar para viver. Amalucados e Malucos são referência a essa comunidade, em que entre “os que cá nascem” e “os que para cá vêm” temos a intenção de refletir sobre o que os aproxima, numa perspetiva sobre os processos e práticas de integração, coesão e formação de identidade e comunidade. À luz de uma abordagem antropológica aberta à paisagem, enquanto experiência relacional entre humanos e mais que humanos, procuramos os objetos e sujeitos de relação ecológica que compreendem significados identitários para a comunidade. Aqui destacamos a ribeira de Pera como um elemento-chave nas relações humanas na paisagem de Pera. Através de uma investigação etnográfica procuramos descrever as atividades e lugares de água que refletem a relação temporal e espacial e os seus significados na identidade da comunidade. Centramos esta reflexão num caso de estudo sobre a prática em redor do sistema de regadio, mais propriamente da levada da Antiga, onde encontramos o valor da sociabilidade entre humanos e ribeira para a comunidade de hoje. Argumentamos que esta prática coletiva é significativa e constitutiva da comunidade, apresentando- se como um mecanismo de integração e partilha de valores, em que se destaca o valor do fazer na transformação e continuidade da identidade singular da comunidade de Pera, através da água.

Pera is a village where a heterogenous community dwells. Here we find a phenomenon of immigration that seeks a place to live in the rural interior of Portugal. Amalucados and Malucos are a reference to this community, where among “those who are born here” and “those who come here”, the intention is to think on what brings them together, in a perspective based on the processes and practices of integration, cohesion and construction of an identity and community. This anthropological approach is open to the landscape, as a relational experience between humans and more than humans. Looking for the objects and subjects of the ecological relationship that comprehend identity meanings for the community, Pera river stands out as a key element in human relations within the landscape. Through an ethnographic methodology we seek to describe the water activities and places that reflect that temporal and spatial relation and think about the meanings of it in the community’s identity. We focus this question on a case study on the practice around irrigation system, more specifically the levada da Antiga. This collective practice through water, we argue, takes a significant and constitutive role in the community identity, being a mechanism for integration and cultural exchange in which the act of doing is highlighted in the continuity and transformation of the identity of a singular community.