A presente dissertação pretende abordar a problemática da tendência do cancelamento cultural russo recentemente surgida em vários países do ocidente, em virtude da invasão russa da Ucrânia de 24 de fevereiro de 2022. Tal invasão espoletou as mais diversas reações, quer pelo facto da vigência de uma mundividência ocidental, onde na contemporaneidade não existe lugar a invasões de nações soberanas com intuitos expansionistas, quer pela transmissão dos meios de comunicação, onde surgem vários casos de violência extrema qua causam a revolta generalizada. Para além das várias sanções políticas, económicas, sociais, e desportivas, várias instituições ocidentais ligadas à cultura, como teatros, casas de ópera, galerias, tomaram a decisão de cancelar eventos culturais russos existentes nas suas programações, desde música, ballet, literatura, e outras manifestações estéticas provenientes da Federação Russa. Embora, tal medida de cancelamento não tenha abrangido, ainda, carácter oficial e estatal, apesar de a Federação Russa ter sido considerada um “Estado patrocinador do terrorismo”, urge avaliar e analisar os efeitos de tais medidas ao nível da comunicação, instituições culturais, públicos, e posições tomadas, como estas se repercutem ao nível da fruição estética, dado o importante papel desempenhado pela cultura russa num contexto global. Partindo da noção de soft power e com base numa metodologia qualitativa de análise de fontes documentais, artigos nos “média” e posições dos visados de casos de cancelamento, concluímos que este caso surge através dos apelos de instituições ucranianas ligadas à cultura, utilizando, entre outros discursos, uma narrativa que refere a utilização da cultura por parte da Federação Russa, como uma estratégia de seduzir culturalmente outros países, fazendo por outro lado a sua expansão territorial. Para além da questão central da comunicação, aspetos como as repercussões destas sanções ao nível da Indústria Cultural, dos públicos e de alguns dos artistas afetados, será colocado em análise o fenómeno recente do cancelamento cultural e a sua legitimidade.

The present dissertation intends to address the problem of the trend of Russian cultural cancellation, which recently emerged in several western countries due to the Russian invasion of Ukraine on February 24, 2022. Such invasion triggered the most diverse reactions, whether due to the fact that of a certain worldview, where in contemporary times there is no room for invasions by sovereign nations2 with expansionist intentions, or through the approach of the media, where several cases of extreme violence appear that cause generalized revolt. In addition to the various political, economic, social, sports sanctions, several Western institutions linked to culture, such as theatres, opera houses, galleries, have taken the decision to cancel existing Russian cultural events from their schedules, from music, ballet, literature, and other aesthetic manifestations from the Russian Federation. Although such a cancellation measure has not yet reached an official and state nature, despite the fact that the Russian Federation has recently been considered a "State sponsor of terrorism", it is urgent to evaluate and analyse the effects of such measures at the level of communication, cultural institutions, audiences, and how these reverberate in terms of aesthetic fruition, given the important role played by Russian culture in a global context. Starting from the notion of soft power and based on a qualitative methodology of analysis of documentary sources, articles in the media and positions of those targeted in cases of cancellation, we conclude that this case arises through the appeals of Ukrainian institutions linked to culture, using, among other discourses , a narrative that refers to the use of culture by the Russian Federation, as a strategy of culturally seducing other countries, on the other hand, promoting its territorial expansion. In addition to the central issue of communication, aspects such as the repercussions of these sanctions on the Cultural Industry, the public and some of the affected artists, the recent phenomenon of cultural cancellation and its legitimacy will be analysed.