Título
“A África é aqui, no terreiro”: Horizontes nostálgicos, sentidos da África e outros lugares no Candomblé (jeje-nagô) de Salvador e Uberaba
Autor
Dias, João Ferreira
Resumo
pt
A presente tese trata da nostalgia e suas roupagens no contexto do Candomblé jejenagô
em Salvador, cidade considerada o berço da religião, a “Meca do Candomblé”, e em
Uberaba, cidade na região do Triângulo Mineiro, marcada pela figura de Chico Xavier,
personalidade histórica da religiosidade brasileira e do espiritismo em particular, onde o
Candomblé chegou há 40 anos. Ao tratar do campo religioso uberabense, questões ligadas
ao hibridismo religioso merecem atenção, oferecendo aportes para o debate clássico sobre
o que constitui autenticidade africana (a intemporal “pureza nagô”), o qual será ampliado
a partir dos dados de campo em Salvador. Este trabalho, trata ainda dos sentidos da África
no Candomblé, em ambos os campos de pesquisa, bem como das mudanças estéticas
impostas ao Candomblé, que se articulam necessariamente com a nostalgia e a ideia de
perda cultural, questões por si mesmas imbricadas aos processos de reafricanização. Tratase,
pois, de uma cadeia que envolve, saudade, perda cultural, modernização visual,
conceções românticas e ideológicas de África.
Paralelamente, tem lugar uma reflexão sobre as condições de realização do trabalho
de campo nas particularidades do movimento “entre cá e lá”, correntemente tomados pela
dicotomia das perspetivas – negociadas – “de dentro” e “de fora”, bem como de temas de
algum modo velados dentro das comunidades-terreiro, como posições de género e agência
sexual ou as extrapolações rituais por parte dos ogans, membros masculinos que não entram
em transe. A presente tese é, toda ela, fiada pela etnografia.
en
The present thesis is an intense journey around Nostalgia among jeje-nagô Candomblé
practitioners in Salvador – claimed to be the holy city of Candomblé –and Uberaba (where
Candomblé arrived 40 years ago), the city of Chico Xavier (eminent figure of Brazilian
religiosity and most in particular the Spiritism), located in the region of Triângulo Mineiro.
Dealing with the Uberaba’s religious field, hybrid experiences may arose and expand the
classic debate on what constitutes African authenticity (the long-term ‘nagô purity’), a
debate enriched by the data collected in Salvador, as well. This work will also stress the
meanings of African in Candomblé in both spaces of research, and aesthetical changes
imposed by the modernization, a concept triangulated with nostalgia and cultural loss.
Tagged with reafricanization, this complex gamble involves homesickness, nostalgia,
cultural loss, visual modernization and romantic and ideological views of Africa.
Side-by-side, it will be taken in consideration the conditions of fieldwork, most in
particular the movement between here and there, generally expressed in terms of inside
and outside, perspective there are, in fact, more negotiated that static; and some veiled
narratives around gender positions, sexual agency and ritual overdoing by the male
practitioners called ogan (non-trance priests). This thesis is all milled with ethnography.