Título
Na luta pelos bons lugares: ciganos, visibilidade social e controvérsias espaciais
Autor
Castro, Alexandra
Resumo
pt
Este trabalho centra-se na compreensão das lógicas de estruturação de práticas de mobilidade
espacial da população portuguesa cigana, procurando analisar o conjunto de factores endógenos e
exógenos subjacentes a estas práticas. Dois objectivos orientaram a pesquisa: i) compreender os
processos de territorialização e de construção do sentido de habitar, através da forma como são
vivenciadas as práticas de mobilidade, sejam estas impostas ou o resultado de estratégias
individuais ou de grupo; ii) analisar como a população cigana tem sido estudada, imaginada e
regulada, através de uma abordagem aos contextos científico, político-institucional e social, onde
os ciganos referenciados como nómadas assumiam uma categoria específica e eram alvo de
estratégias de acção pública particulares.
Privilegiou-se uma estratégia de investigação do tipo intensiva-qualitativa, assente numa etnografia
colectiva multi-situada, onde o elemento permanente de observação não era um lugar, mas
diferentes núcleos familiares que se deslocavam e permaneciam em diferentes territórios.
Complementarmente mobilizou-se um conjunto de técnicas no sentido de alargar o campo de
observação a dimensões que o trabalho de terreno não podia chegar. Apresentam-se três Estudos de
Caso que abordam núcleos familiares que ao longo dos seus percursos de vida não encontraram um
lugar para se estabelecerem de forma duradoura, mas também residentes em barracas e tendas com
algum grau de fixação. A pesquisa permitiu ainda traçar o retrato possível dos contrastes sociais
apresentados pela população cigana em Portugal, evidenciar em que condições e através de que
modalidades a presença dos ciganos se tornou a nível local um problema público e quais as
respostas que localmente são evidenciadas tendo em conta situações diferenciadas de inscrição
territorial.
en
This work focuses on understanding the logic of the structuring practices of spatial mobility of the
Portuguese gypsy population, aiming to analyze the set of endogenous and exogenous factors that
underlie these practices. Two main objectives guided the research: i) to understand the processes of
territorialization and construction of the meaning of dwelling, through the way practices of
mobility are experienced, whether imposed or the result of individual or group strategies, ii) to
analyze how the gypsy population has been studied, conceived and regulated through an approach
to the scientific, political-institutional and social contexts, where the gypsy, referred as nomads,
assumed a specific category and were subject to public strategies.
We focused on a strategy of research of intensive-qualitative type, based on a collective
ethnography multi-located, where the permanent element of observation was not a place, but
different households moving and staying in different territories. Additionally, a set of techniques
were applied to extend the scope of observation to dimensions that the fieldwork could not attain.
Three case studies are presented addressing households along their paths of life who could not
found a place to settle permanently and living in tents with a certain degree of permanency. The
research also allowed to draw a picture of the social contrasts presented by the gypsy population in
Portugal, showing under what conditions and through what modalities the presence of gypsies
became a problem from a local to a public level, and also the local answers put into practice in face
of different situations of territorial affiliation.