Diretor Iscte Sintra
Como surgiu a ideia do Iscte Sintra, Escola de Tecnologias Digitais, Economia e Sociedade?
A ideia surgiu no início de 2018, por iniciativa da Câmara Municipal de Sintra. O concelho de Sintra é o segundo mais populoso do país e o que tem o maior número de jovens entre os 15 e os 24 anos. No entanto, não existia nenhuma instituição de ensino superior naquele território. Os dirigentes do município entenderam que a presença de uma universidade no concelho iria contribuir para o aumento da frequência do ensino superior e para o desenvolvimento económico da região. Para isso, precisavam de um parceiro universitário e contactaram o Iscte. A Reitora, então recém-eleita, aceitou o desafio e constituiu uma equipa interna para trabalhar no projeto que viria a ser adotado pelos órgãos do Iscte.
É a primeira vez que o Iscte sai do seu conhecido campus de Lisboa. Porquê esta aposta em Sintra?
Para além do elevado número de jovens do concelho e a inexistência de oferta de ensino superior, Sintra apresenta várias características que dão sentido a este projeto: a proximidade a Lisboa, as boas ligações por transportes públicos, o enorme capital cultural e simbólico da vila de Sintra, a sua visibilidade internacional, um tecido empresarial relevante, entre outros. A isto acresce o forte compromisso do município com este projeto, que cria condições institucionais favoráveis a vários níveis. Ao instalar-se em Sintra, o Iscte reforça a sua ligação aos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, prosseguindo assim um dos seus objetivos estratégicos de médio prazo.
As Tecnologias Digitais assumem um papel crescente na sociedade e na economia. Como pode a universidade contribuir para a transformação digital em curso?
O principal papel social da universidade é formar pessoas com conhecimentos e competências avançadas, capazes de pensar e agir de forma livre, autónoma e responsável. O processo de transição digital em curso necessita de pessoas com estas características. Os conhecimentos exigidos não são apenas tecnológicos: quem concebe e implementa tecnologias digitais tem de compreender as pessoas, as organizações e as sociedades que as utilizam. Universidades como Iscte, onde convivem de perto diferentes áreas do conhecimento, podem dar um contributo fundamental nesse sentido. Para além da formação das pessoas, as universidades são chamadas a compreender e a refletir sobre as tendências da digitalização e as suas implicações éticas, ambientais, sociais, económicas e culturais. Ou seja, através do ensino e da investigação, as universidades podem e devem contribuir não apenas para impulsionar a transição digital, mas também para potenciar os seus benefícios e minimizar os seus riscos.
A CENTRALIDADE DA ESCOLA
As instalações do Iscte Sintra ficam a 7 minutos a pé das estações de comboio de Sintra e da Portela de Sintra, com ligações frequentes às várias localizações do concelho, ao centro de Lisboa e às linhas do Sul, do Norte e do Oeste. Sintra tem também boas ligações para quem se desloca de automóvel a partir de diversas localidades (cerca de 30 minutos ou menos de Lisboa, Almada, Cascais, Oeiras, Mafra e Vila Franca de Xira). Existem três grandes parques de estacionamento junto à Estação de Comboios da Portela de Sintra. Também é possível encontrar lugares de estacionamento nas ruas adjacentes (principalmente durante as horas de funcionamento do Iscte Sintra).
Esta nova escola aproveita o saber acumulado nos 50 anos de Iscte e cruza algumas das suas áreas de eleição. Corre-se o risco de ela vir enfraquecer as áreas tradicionais e características do Iscte?
Desde a sua origem que o cruzamento de conhecimentos e a inovação são marcas distintivas do Iscte. Há 50 anos o Iscte foi pioneiro na criação das licenciaturas de Gestão e de Sociologia em Portugal, tendo então como agregadores das duas áreas os estudos interdisciplinares do trabalho e da empresa. Foi pioneiro também no cruzamento das áreas da informática e da gestão, com a introdução da primeira licenciatura híbrida destas duas áreas no país. Há três anos, criou a primeira licenciatura em Ciência de Dados, também ela cruzando conhecimentos de várias disciplinas. O Iscte distingue-se desde sempre por esta capacidade de inovar através do cruzamento de saberes, também ao nível dos mestrados e doutoramentos, bem como da investigação e da prestação de serviços. O Iscte Sintra é mais um passo nesta trajetória, apostando numa escola em que o ensino das tecnologias digitais se faz em estreita ligação com os domínios organizacionais e temáticos de aplicação, com o forte contributo das ciências sociais e empresariais.
Quem vai dar aulas no Iscte Sintra? Há qualificações suficientes em Portugal?
A equipa docente do Iscte Sintra está a ser construída com docentes e investigadores do Iscte que decidiram juntar-se a esta nova escola, vários recém-doutorados, e alguns professores de outras instituições de ensino superior cujo perfil científico e pedagógico se adequa a um projeto académico que articula tecnologias digitais com ciências sociais e empresariais. Pessoas com este perfil não abundam – de resto, esse é um dos motivos principais para o surgimento desta nova escola. Apesar disso, não tem sido difícil identificar pessoas qualificadas com vontade de integrar a equipa docente do Iscte Sintra.
A deslocalização e a forte ligação às empresas não desvirtuam o Iscte?
A concentração de instituições universidades na cidade de Lisboa é uma excentricidade desta região metropolitana. Na Área Metropolitana do Porto, por exemplo, encontramos universidades de referência não apenas na cidade principal, mas também em Aveiro, Braga e Guimarães. O mesmo acontece em muitas regiões metropolitanas da Europa e dos EUA. A concentração das universidades em Lisboa tem três consequências muito negativas: contribui para o congestionamento da capital, impõe elevados custos de frequência aos estudantes e prejudica o desenvolvimento dos territórios suburbanos. O caso de Sintra é gritante a este respeito: imagine-se a diferença que a nova escola pode fazer para o desenvolvimento daquele território, onde não faltam pessoas, infraestruturas, empresas e capital simbólico – mas faltam universidades. Não é a localização, nem a ligação das instituições ao tecido social e empresarial, que distingue as universidades dos politécnicos. As universidades dão maior ênfase à articulação entre ensino e investigação, os politécnicos têm um ensino mais orientado para o exercício de profissões específicas. O Iscte é uma universidade de referência – com tudo o que isso implica – e sempre se afirmou por uma forte ligação ao contexto económico e social envolvente. O Iscte Sintra não será diferente.
O Iscte Sintra vai iniciar o seu funcionamento em instalações provisórias. Garantem condições para um ensino de qualidade?
O edifício que irá albergar a nova escola do Iscte em Sintra começará a ser construído em breve, mas não estará pronto antes de 2025 ou 2026. Isso significa que os primeiros licenciados do Iscte Sintra só vão conhecer as instalações transitórias. O Iscte encontrou um edifício no centro da vila de Sintra que permite o funcionamento no primeiro ano em condições adequadas, ainda que não perfeitas. Por exemplo, as turmas não poderão ter mais de 24 alunos, não haverá refeitório no edifício e o número de postos de trabalho para docentes é limitado. A prazo, estas condições não são adequadas, pois o número de estudantes e docentes irá aumentar. Para já, o edifício em causa permite o funcionamento regular de oito licenciaturas, com espaços de laboratório, convívio, trabalho em grupo, leitura, apoio administrativo e atendimento, com as dimensões necessárias para esta fase. Iremos assegurar serviços de refeições a preços sociais no exterior, a curta distância da escola. Estamos todos – comissão instaladora, equipa de arquitetos e engenheiros responsáveis – empenhados em oferecer um espaço não apenas funcional, mas também agradável e atrativo para estudantes, docentes e funcionários. Para o segundo ano, já estão a ser trabalhadas novas soluções.