Docente Iscte
Investigadora Istar-Iscte
Tem estado envolvida em vários projetos de investigação e de ensino que utilizam a realidade virtual (VR) e a realidade aumentada (AR) na arquitetura.
Os temas da realidade virtual e da realidade aumentada começaram por ser abordados no Iscte pelos investigadores e docentes da área da computação gráfica. Há cerca de uma década, começámos a trabalhar com essas ferramentas na área da arquitetura, em várias vertentes, sejam elas os projetos de investigação, propriamente ditos, ou os trabalhos de mestrado e de doutoramento. Beneficiamos muito do trabalho colaborativo existente no Iscte, no caso entre as áreas da computação gráfica e da arquitetura. Também temos colaborado bastante com a área de psicologia para estudar temas de perceção espacial.
Trata-se de um trabalho de laboratório, ou trabalham com projetos reais?
Maioritariamente, trabalhamos numa base laboratorial, em protótipos, mas também temos desenvolvido projetos com entidade externas, nomeadamente municípios, ou, por exemplo, com entidades ligadas à Defesa, que pretendem realizar simulação de treinos. Muita da arquitetura que se faz em Portugal segue ainda as vias tradicionais, pelo que as componentes tecnológicas ainda não são muito valorizadas. Esta situação está, no entanto, a evoluir nos últimos anos em algumas áreas tecnológicas como o BIM.
REALIDADE VIRTUAL (VR)
é a geração de uma realidade artificial, utilizando um computador. Trata-se de uma experiência imersiva, em que o utilizador tem a ideia de estar num cenário, ou realidade, que na verdade não existe.
REALIDADE AUMENTADA (VR)
consiste na sobreposição de objetos virtuais sobre um cenário real.
O que ganha a arquitetura com este tipo de abordagem?
Uma das grandes vantagens é a possibilidade de imersão total num projeto de arquitetura. O que antes apenas era feito de forma bidimensional – plantas, cortes, alçados, perspetivas – pode hoje assumir uma dimensão espacial mais completa. Por exemplo, uns simples óculos de realidade virtual permitem a qualquer pessoa testar o ambiente que está a ser concebido e ter uma noção acerca da sua configuração final, assim como das alternativas que podem ser equacionadas. Outra aplicação concreta é a possibilidade de realizar projetos arquitetónicos envolvendo criadores estabelecidos em várias partes do mundo, sendo possível partilhar ideias de forma muito mais completa e em tempo real. Essa abordagem previne erros e potencia o trabalho de equipas multidisciplinares. E há ainda a possibilidade de novas abordagens estéticas e híbridas, como o metaverso, apenas possíveis com recurso a este tipo de tecnologias.
Trabalham com software comerciais, ou há sempre a necessidade e programação?
Há dez anos, era necessária especialização nas áreas da informática e da programação para desenvolver projetos nestas áreas, sendo que os ateliers necessitavam de contratar especialistas dessas áreas. Hoje em dia, há imenso software e hardware disponíveis, incluindo gratuitos, com os quais se podem desenvolver projetos complexos. Muitos arquitetos fazem um forte investimento nestas plataformas. Por exemplo, o atelier de Zaha Hadid Arquitetos, em Londres, com o qual colaboramos, tem um gabinete especial dedicado ao desenvolvimento de realidade virtual e, claro, aí fazem programação específica e projetos únicos.
Ao nível universitário, há essa componente de desenvolvimento de aplicações para arquitetura?
Normalmente, os estudantes de arquitetura trabalham com software existente, especialmente em open source, gratuito. Quando os estudantes de arquitetura desenvolvem trabalho em conjunto com os de computação, aí as possibilidades são, de facto, outras. Por exemplo, tenho atualmente um estudante de Engenharia Informática na cadeira de Desenho, que está apostado em criar uma aplicação com realidade aumentada. Temos esperança de que a nova escola de Sintra do Iscte, em que haverá casos de aplicação prática a várias áreas, incluindo a construção, possa vir a aumentar o interesse por estes temas.
Há mercado português, sejam ateliers, construtoras ou autarquias, para esta abordagem?
Sim, por exemplo, o nosso investigador Ricardo Resende está a desenvolver o projeto BIM Drenagem para a Câmara Municipal de Lisboa, em que é utilizada a tecnologia BIM e a realidade virtual. Também alguns ateliers e construtoras, as mais avançadas, têm manifestado algum interesse, mas na verdade temos tido muito mais recetividade no estrangeiro.
Em Outubro de 2019, um grupo de arquitetos e designers internacionais líderes na utilização de tecnologias de VR e AR no seu processo de design reuniu-se em Lisboa, na conferência e exposição “Artificial Realities: Virtual as an Aesthetic Medium for Architectural Ideation”, promovida pelo Centro de Investigação em Ciências da Informação, Tecnologias e Arquitetura (Istar-Iscte), no âmbito da Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2019.
Uma versão estendida destes debates e experiências foram reunidos num livro, que recolhe trabalhos de 47 autores de 15 países, incluindo alguns projetos de design selecionados.
Virtual Aesthetics in Architecture
Routledge
Nova Iorque, 2022
Além dos projetos de investigação, decorrem no Iscte vários doutoramentos em que se utiliza a realidade virtual e aumentada na arquitetura. É assim?
Temos e bastante diferentes. Por exemplo, temos um doutoramento sobre construção robótica com drones. Estamos a simular uma construção, em que haverá a interação com drones, de forma a testarmos a sua eficácia e benefícios. Para além de, na fase final, usarmos drones, começamos com a simulação da sua existência, e avaliamos o impacto da sua utilização sobre os seres humanos, os trabalhadores. Noutro doutoramento, que envolve também a área da psicologia, estamos a avaliar a satisfação dos cidadãos idosos no atual ambiente urbano. Trata-se de um ambiente um pouco frenético, em que, por exemplo, se cruzam vários meios de transporte, e importa perceber como isso impacta nos cidadãos com mais idade. Com a realidade virtual, podemos simular todas essas situações, sem o envolvimento direto das pessoas nos locais e sem as colocar em perigo.